sábado, 27 de novembro de 2010

Imagens


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    IMAGENS    

Rosemary Amabile                                                                              

  Dedos rasgando vidros...
  Ficaste assim
  nas minhas imagens de ti;
  produzindo emoções de dor,
  medo e repulsa,
  como um aperto no peito,
  um arrepio a percorrer a espinha,
  uma contração no rosto e no ventre.
  
  Volte sobre teus passos,
  mostre teu rosto
  através de um puro cristal,
  mostre teu ser verdadeiro.

  Tire teu rosto detrás desses vidros
  que distorcem,
  tua imagem não é essa
  que aumentaste,
  tua imagem não é essa
  que diminuíste.

  Toma e trata as minhas mãos feridas
  de rasgar esses vidros
  que obscurecem a visão.
  Trata da tua imagem.

  Não venhas com um beijo
  para minha boca,
  basta que me toques a face,
  e afastes esse fantasma
  de olhos de vidro,
  tua imagem, que me persegue





quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Fui...




FUI... 


Rosemary Amabile


  Tu não sabes
  mas hoje tive que conter 
  palavras de íntima indignação,
  da vontade muita 
  de reduzir-te o tamanho,
  de conter teu costumeiro dano.

  Ah! Touro de curral,
  boi de açougue. Empacado!
  Por tua incúria
  perdeste minhas palpitações,
  os sonhos que sonhei por ti.
  Perdeste as palavras 
  que não mais te direi
  os desejos em que não mais 
  me incendiarei

  Sem lutas de igual, 
  de escolhas conscientes
  Sem “prazer” de ringue
  Fui eu o Touro, da tourada 
  de monstros na arquibancada.

 













  





  O Touro do sacrifício, da barbárie,
  com as carnes covardemente lancetadas,

  a debelar-me a força antes da luta,
  antes, da morte anunciada...





 Comentário: Com essa referência, quero registrar 
  meu protesto subentendido na poesia, 
  contra também qualquer sacrifício animal, 
  a pretexto de diversão de "seres humanos".     
  Até quando, oh Deus, o homem desejará 
  e permitirá as arenas sangrentas de dor 
  e medo?
  Refiro-me até mesmo àqueles espetáculos
  onde o animal que, para olhos cegos 
  aparenta ser o “astro”, sofre no mínimo
  muito estresse, muita coerção.  
  Verifique por exemplo como é a vida 
  de um animal de circo, fora da lona.  
  Por que então, 
  se não fosse assim um animal derramaria  
  lágrimas antes do rodeio?




domingo, 7 de novembro de 2010

O Veterinário



  Uma homenagem àqueles que se dedicam ao cuidado 
  com os animais, seja ou não com um diploma.

O     VETERINÁRIO    



            












   Rosemary Amabile
       
  Estava ao sol
  um velho, olhando a vida
  agitada a correr atrás,
  atrás do que?

  Enxugou a testa
  e as rugas do rosto.
  Esboçou um sorriso terno.
  Complacentemente tomou sua pasta
  e meteu-se em meio ao burburinho da vida.

  Tomou a condução
  que o levaria a mais um ponto distante.
  Tantos e tantos anos a visitar pessoas
  e tratar dos seus animais. Tantos.

  Enquanto o ônibus rodava
  lembrou-se de quantos rodaram em torno dele,
  quantas vidinhas ele ajudou a manter.
  Tratar dos animais era sua vocação.

  Lembrou-se de sua vida
  desde criança, moço,
  o casamento, o trabalho, os filhos.
  Como um filme a maturidade, a velhice,
  e sempre os animais à sua volta.

  Da janela o velho olhava a rua.
  sentia-se muito cansado, mas tranqüilo.
  Mesmo com todas as provações por que passara
  sentia-se realizado,
  porque ele amava o que fazia.

  E assim como estava naquele momento,
  sem se perturbar, sentado viajando, 
  sereno permaneceu.
  O Visitante Infalível chegou,
  entrou em seu peito e para sempre o levou dali
  na sua mais longínqua visita, sem regresso.




Grito da Terra.






GRITO DA TERRA 

                                          













 Rosemary Amabile

   Ouço o som, você ouve?
   Surdo, imperceptível,
   o som da terra, a voz de Gaia*.
   O coração dela pulsa no meu Solar.
   Pulsa essa vibração no meu ventre.

   Que diz? Traduz esse compasso?
   Sim, ele conclama.
   Sutil, incita, reclama:
   -Filho de quem você humano é?
   -Filho da Terra, agora vá!!!
   -Toma a bandeira e solta a voz!
   -Solta a letra, faz a defesa!
   -Não sou réu, sou vítima!
   -Sou mãe dos filhos ingratos!
   -Sou eu mãe Terra abandonada!



                                 * Gaia, Deusa Terra.








Dein ist mein Ganzes Herz - É só teu o meu coração Tradução - legenda ...

Pavarotti - Nessun Dorma - Turandot, Puccini