domingo, 14 de março de 2010

Passagem





Sem mais palavras 

para esta experiência específica...


PASSAGEM  

Rosemary Amabile

  Atende-me porteira
  da larga – estreita porta.
  Preciso urgente de notícias,
  de recente passageiro 
  exonerado da vida, aportado.



  Irmão no sangue, irmão do espírito.
  Corri aos seus despojos de carne,
  em sonho louco de ouvir mais um suspiro,
  o último, se despedindo.
  Quem sabe, por Deus, uma palavra!

  A carne inerte e muda,
  em cores de dor me recebeu.
  Na carne, escrita a agonia,
  não havia precisão 
  de perguntar a ninguém o que se passou.
  Oh dor da passagem da larga – estreita porta!
  Que preço cobras para abrir-te a paz!
  Quem te permite ser tão mercenária!
  Quem te vigia a corrigir teu julgamento,
  a quem te reportas na graduação?

  Não te faças de rogada!  Nem respondas!
  Quem esteve aí a recebê-lo, alguns eu sei.
  E vejo a festa dos corações saudosos.
  Vi-o partir daqui, bagagem leve.
  No calvário da carne foi deixando o fardo.
  A doença, seu verdugo por longos anos, 
  silício diário.
  Meu irmão chegou aí de alma lavada,
  não temo em dizer, não erro.

  Cobro de ti, não tens coração!
  Exageraste a mão nos tempos finais.
  Querias o quê? Já estavas paga!
  Queres acumular dores 
  no teu Banco das Desgraças.
  Não importa mais! Nem respondas!
  Não tens mais o que fazer, me esperarás!
  Te esperarei... falar-te-ei de frente.
  Cobrar-te-ei cada, que eu prantear no chão...




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